sexta-feira, 28 de outubro de 2011


O café da manhã tomado sem pressa





Falar sobre um gênio da música sempre soa como lugar comum. São palavras que se repetem, cansam e não trazem o novo para ser o renovo do que já foi dito. É como se tentássemos separar mito e realidade, o trivial do original, a fala da expressão. Com Francisco Buarque de Hollanda, carioca criado em São Paulo, 67 anos, não é diferente. Seu último trabalho, intitulado “Chico”, traz na simplicidade dos versos a profundidade dos desejos, daqueles lugares escondidos onde guardamos os sentimentos mais nobres, e que estão nas suas letras, assim, ao alcance das mãos de quem procura no alto da adega um vinho envelhecido, de cheiro forte e gosto marcante.
            Falar em Chico sem mencionar as suas canções irreverentes, astutas, nas intenções e no duplo sentido para driblar a censura e denunciar e combater e subverter a ferocidade militar de um governo em plena ditadura militar é ignorar uma geração ousada da história política do país.
                “O que será que tem nesses olhos teus, pra me seduzir, pra me escravizar”, são os versos de Canção dos Olhos, considerada a primeira composição de Chico, em 1959, influenciada pelo LP Chega de Saudade de João Gilberto. Em 1963, entra na Universidade de São Paulo, um ano depois começa sua trajetória pelos palcos. 
            É nessa época que o samba ganha força, as canções passam a ter autoria e a imagem do “artista popular” no Brasil é consagrada nos programas de rádio. Sambistas como Ataulfo Alves e Wilson Batista, induzidos pelo regime varguista, passam a escrever canções para o “trabalhador” e não para a “malandragem”, o que estaria de acordo com os ditames da pretendida integração e identidade nacional, propostas pelo Estado Novo.         
            Com isso, artistas e intelectuais como Chico Buarque tiveram que criar metáforas e dizer ironias subentendidas, para unirem compositores e povo como peças de resistência política. Nos anos 80, mais precisamente em 1985, o fim da ditadura, da censura e o início do processo de redemocratização do país, transformaram as canções de protesto em melodias melancólicas da bossa nova e do samba.
            Chico passava a ler a alma do povo, criava um novo estilo de compor, de cantar, se tornava ídolo de uma geração politizada da história do Brasil, incitava os militantes, difundia a cultura, gritava pelas revoluções sentimentais, brincava com as palavras.
            E pensar que em 50 anos de carreira, Chico ainda faz uma geração inteira “saber delirar, e morrer de paixão, e seja lá como for, ter fim a infinita aflição, e o mundo vai ver uma flor, brotar do impossível chão”. Ouvir Chico é se despir dos pudores, encontrar em suas canções, novas formas de militância. Não uma militância pretensiosa, estupidamente intelectualizada, que alardeia a própria presunção, mas uma militância contra o cenário musical de muitas canções vazias que ocultam as boas e novas vozes que muitas vezes sequer chegam aos microfones.
            Canções como Tipo um Baião, Essa Pequena, Rubato, Nina, presentes em seu novo cd, mostram um Chico sutil, leve, com o seu habitual poder sobre as palavras, tecendo cada fio do enredo, o doce e o amargo dos pormenores cotidianos.
Para além das canções de cunho político, Chico canta a nuance do amor e do desamor, as dores das paixões mal resolvidas, as relações cotidianas através de uma linguagem simples, com aguçada sensibilidade ao mundo feminino. Suas ideologias não desapareceram, elas criaram novas formas de se manifestar. Numa cultura cheia de extremos como a nossa, em que os heróis covardes se tornam gigantes frágeis, Chico canta sem medo de libertar o poeta que tem dentro de si, enche de prosa e poesia os nossos ouvidos, e se torna o café da manhã tomado sem pressa.



             
               

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Acho que seja uma crônica e não tem título


Ela está no hospital. Tudo ao redor tem tons de cinza e faz frio. Nada a conforta. Ela se sente só e perdida mesmo rodeada de gente.
Eu queria escrever uma história pra essa moça que fosse muito bonita e engraçada. Quando ela lesse esta minha história risse, caísse na gargalhada e que olhasse a vida com cores novamente. Que ela ficasse tão animada com o que tinha lido, e então contasse a todo mundo que a fosse visitar. Quando a vissem tão alegre, as pessoas ficariam espantadas e ririam com ela também. Que minha história aquecesse seu coração, que lembrasse a música que mais gosta, que trouxesse de volta as lembranças de um tempo de primaveras e a confortasse.Que ela mesma ficasse admirada com o prazer do próprio riso,depois de tanto tempo sem o sentir.
Que uma amiga que a fosse visitar escutasse a história e comentasse para o marido mal humorado e assim ele também fosse atingido por esta história; e que um ouvindo a risada do outro se lembrasse dos tempos bons daquele amor que resistiu a tantos desafios, e reencontrassem a perdida alegria de estarem juntos.
E que essa história se espalhasse por casas, lugares, cidades, continentes sem perder seu encanto, sua pureza. E que quando fosse escutada reconfortasse os corações e desse um pouquinho de alegria, mesmo que fosse uma alegria momentânea.
E se alguém perguntasse a mim de onde surgiu essa história, eu diria que ouvi na rua, em algum lugar que não recordo mais. Eu esconderia assim a verdade: que quando eu te vi sozinha no quarto, com toda aquela tristeza que não cabia no seu corpo, a única coisa que eu queria mais do que tudo era que você risse e continuasse...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011



José González, cantor de indie/folk sueco, filho de argentinos, cresceu bebendo altas doses de música latina, hoje canta com letras e voz em inglês e tem como grande ídolo, o cantor cubano Silvio Rodrigues. Eu não sei se foi todo o contexto bizarro-diferente-incrivelmente-bonito do clipe, mas não é  que ver 250.000 bolas coloridas rolando pelas ruas de San Francisco, EUA, é de uma beleza muda que não precisa ser dita..(?!)


e o que dizer dos acordes de violão carregados de uma nostalgia quase inocente? aiai, o que fazer com todas essas "jujubas" voadoras? .´)

mais surpresa do que isso? só o final,

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

quem inventou a poesia?
(um texto escrito em um dia em que acordei com uma vontade enorme de promover insurreições sentimentais..)

existem coisas que não podem ser ditas em versos. talvez a maioria. quem sabe as verdades mais fortes. verdades que versos não possam fingir, mentir, ou fazê-los querer ser o que não são. verdades que  façam os versos serem apenas versos, limitados, muitos cheios de um vazio comum, tomados pela incrível arte de liquidar em um só soneto os sentimentos mais originais. abaixo a toda essa poesia. a esse discurso ensaiado que sempre diz a mesma coisa. a esse dizer comedido que tem medo de se mostrar. Abaixo as ilusões ofertadas feito flores perfumadas e que não tem vida além da linha. Abaixo os versos caricatos da mesma canção de ontem. a qualquer eu te amo efêmero e mistério óbvio e desassossego falso e subjetividade exagerada que mascara o que poderia ser simples. Abaixo as palavras doces que não sabem o que dizem. a escrita oca coberta por um pele de genialidade. a falta de cores da imaginação pálida. Abaixo todos os gestos que morrem sem serem ditos. viva a prosa. viva os mesmos intentos de ontem que hoje vestem roupas novas. viva as palavras tolas que escondem uma paixão profunda. viva a doçura de um sorriso bem dado. viva a imensidão do olhar. viva a porta escancarada para as pessoas verdadeiras. viva as pequenas coisas que se tornam grandes e racham o solo das nossas convicções. viva tudo aquilo que sussurra idéias novas à cabeça. viva a dose exata do que nos faz feliz. viva o saber o que se quer mesmo quando se pensa que não sabe. viva os detalhes bobos que nos fazem lembrar do que vale a pena. viva os sentimentos ousados. viva o beijo e o abraço e o embaraço que esmagam qualquer palavra. quem inventou a poesia? quem disse que poetar é preciso? quem disse que a poesia é o alimento do amor e das demais coisas que se ousa sentir? a poesia é a janela por onde o poeta joga suas feridas velhas, os seus dramas inacabados, e se joga além dela, como um barquinho na tempestade suplicando para ser tragado pela tormenta, e então ele ter um motivo a mais para ser vítima e algoz do próprio enredo. digo mais uma vez: a forra com essa poesia e com os seus suspiros fajutos que se pretendem ardentes. eu quero a prosa. uma prosa feito pão todas as manhãs. uma prosa feito andar de bicicleta, vento no rosto, o sabor do sorvete preferido, o mundo além.. .de um verso. uma prosa para andar sob sóis inteiros sem o destino do escape mais fácil. uma prosa pra dançar, pra correr na chuva, pra pegar na mão de quem se ama, pra perceber o tamanho que a vida pode ter. e quanto a essa poesia, uma gaveta trancada e chaves em alto mar, até o dia em que ela diga algo que eu ainda não saiba.

domingo, 2 de outubro de 2011

"Sou tímido e espalhafatoso, Torre traçada por Gaudi"

De saúde frágil e afetado por uma doença reumática desde a infância, Gaudí acabou se tornando bastante observador e desenvolveu um amor profundo pela natureza. De origem humilde, era filho de um ferreiro que iria viver com ele no fim da vida, e também acompanhado de uma sobrinha, nunca tendo casado. Nasceu em Reus, perto de Tarragona, sul da Catalunha, em junho de 1852.

Estudou na Escuela Provincial de Arquitectura de Barcelona, em 1873 até se formar em 1878, cidade em que viveu a vida inteira. É em Barcelona que as atividades construtivas de Gaudí se desenvolveram. Os primeiros trabalhos realizados entre 1880-1890, ainda estão no estilo gótico e carregados de referências à arquitetura árabe e mudéjar. Em torno de 1898, Gaúdi incorpora em sua arquitetura motivos naturalísticos e o barroco. Toda a arquitetura dele é permeada por elementos que remetem ao sagrado, sejam inscrições explícitas ou imagens de santos. Em quase todos os edifícios construídos por ele possuem inscrições religiosas como na Casa Batlló ou na Casa Calvet.

A partir de 1883, até sua morte, a obra a qual Gaudí dedica sua vida e sua atividade profissional é a Sagrada Família, lugar onde ele é enterrado. Morre aos 75 anos, depois de ser atropelado por um bonde três dias antes. 


"Perguntaram-me por que eu fazia colunas inclinadas. Respondi-lhes: "Pelo mesmo motivo que um viajante cansado,quando para,se apóia em um cajado inclinado, dado que se o colocasse na vertical,não descansaria".

Três obras feitas por Gaudí:


1 - Sagrada Família, 1883 (em construção)

No final de 1881, a Associação Espiritual dos Devotos de São José,adquire o terreno para a construção de uma igreja no centro da cidade. Em 19 de março de 1882 é colocada a pedra fundamental da igreja,pelo arquiteto diocesano Francesc de Paula Villar, que pouco depois desiste do encargo. Em 3 de novembro de 1883, quando apenas as escavações para o subterrâneo haviam sido feitas, Gaudí assume a direção da obra e desenvolve um projeto coerente com o trabalho de seu predecessor. É templo de grandes dimensões e no qual predomina a verticalidade.Sobre cada uma das três fachadas - a leste dedica à natividade, a oeste, à paixão,e a sul,à glória - erguem-se quatro torres que possuem sinos. No total estão previstas 18 torres,mas apenas 8 foram concluídas.







2- Parc Güell, 1900-1914
O conde Eusebi Güell, principal empregador de Gaudí, promove a construção de uma área-jardim a fim de atrair a alta burguesia barcelonesa a uma zona conhecida como bairro de la Salut. Em 1922, o bairro-jardim se transforma em parque público,doado pelos herdeiros de Güell ao município de Barcelona. No ano de 1924,torna-se Patrimônio da Humanidade da Unesco.








3 - Casa Milà, 1906-1910

Don Pedro Milà i Camps confia a Gaudí a construção de uma obra de dimensões notáveis,diferentes daquelas realizadas até então pelo arquiteto catalão.A obra é concebida como um monumento à Virgem do Rosário. Fevereiro de 1906 são apresentados a prefeitura de Barcelona os projetos de Gaudí para um edifício residencial: cinco pavimentos de apartamentos residenciais distribuídos ao redor de dois pátios de forma irregular e com duas escadarias principais.








Momento: Uat is dis?

Mudéjar: Estilo surgido no século 19 na Península Ibérica, nascido da aproximação das culturas cristã, hebraica e mulçumana. Caracteriza-se pelo uso do tijolo de barro como material de construção.

Para terminar, um vídeo em homenagem a cidade de Barcelona, escrita por Caetano Veloso e cantada por Gal Costa (o que era a moda nos anos 80?!) com todo seu glamour.



Links:

site com várias fotos muito boas das construções de Gaudí

http://itiscreation.com/2010/08/25/antoni-gaudi/


site com as grandes obras da arquitetura- http://www.greatbuildings.com/buildings/Casa_Batllo.html


site sobre a Sagrada Família- http://www.sagradafamilia.cat/

















sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pollock- “A pintura tem vida própria. Procuro deixar que ela se manifeste.”

Jackson Pollock pintou 340 telas, foi expoente do expressionismo abstrato, depressivo, lutou contra o alcoolismo e morreu em um acidente de carro aos 44 anos. Pintor americano, (28/1/1912 –11/8/1956), nasceu em Cody, Wyoming, mas passou uma parte da sua infância e adolescência na Califórnia. Em 1928, com 16 anos, Jackson Pollock entrou na Escola de Artes Manuais de Los Angeles, depois se mudou para Nova Iorque, e ingressa na Liga dos Estudantes de Arte.

Em 1929, Pollock ainda pintava cenas de forma figurativas e paisagens. Seu estilo de pintura transforma quando assisti a uma palestra do muralista mexicano David Alfaro Siqueiros. Ele passa a ter contanto com técnicas e tintas diferentes, como areia sobre a tela ou borrifamento da tinta. Passa a pintar de forma abstrata. Casa- se em 1948 com Lee Krasner (1908 – 1984), também artista, vão morar no interior dos EUA, e Jackson transforma um celeiro em ateliê. Com muito espaço, ele começa a trabalhar em telas enormes que abria no chão e caminhava sobre ela. Desenvolveu duas técnicas: “action painting” e “dripping” (gotejamento).


Algumas pessoas têm uma ideia errônea quando se trata da pintura que Paul Jackson Pollock criou. Em um primeiro momento você pode pensar que qualquer individuo pode criar o que ele fez, mas não é bem assim. Há método, há cálculo, no caos colorido que é a pintura de Pollock. Existe a influência do surrealismo, da liberdade de improviso, da expressão do inconsciente, e talvez do onírico.

Tente fazer isso na sua casa ou aonde quiser, em um dia de ócio, acredito que a experiência vai ser bem divertida (pra mim foi e é), você vai se sujar todo (até hoje tem respingos no meu quarto, no teto para ser mais específica) e no fim da lambança é provável que você sinta uma pontinha de frustração ao perceber que não é tão simples quanto parece.
Um repórter perguntou a Jackson Pollock: "Como você sabe que terminou uma obra?" Ele respondeu: "Como você sabe que terminou de fazer amor?"

Alguns quadros:



Vídeos:


O homem em ação

Trailer do filme "Pollock" de 2000, dirigido e atuado pelo fodástico Ed Harris

Momento: Uat is dis?
Dripping foi uma técnica criada pelo alemão Max Ernst. O gotejamento utiliza os respingos da tinta sobre a tela que é colocada no chão.

Action Painting ou pintura de ação é quando o artista coloca a tela no solo, e a tinta é atirada ao ritmo do pintor ou gotejado. Pode também encher de tinta uma lata furada e sair respingando sobre a tela sem esquema prévio. Surgiu em Nova Iorque, na década de 40, do século XX.

Ru uas?
Max Ernst foi um pintor alemão, que funda em 1919 o grupo Dadaísta, para os íntimos apenas Dadá. Em 1922, entra no movimento Surrealista. Acreditava que a obra deveria surgir do sonho, do inconsciente.

Link em inglês sobre Ernst: http://www.artchive.com/artchive/E/ernst.html

Links sobre Pollock: o oficial http://www.jacksonpollock.com/ 
e esse bem legal http://jacksonpollock.org/ que dá para você se sentir um pintor expressionista abstrato por alguns minutos.




sábado, 24 de setembro de 2011

Uma flor no asfalto chamada Blues

O Crossroads Guitar Festival é um evento que já aconteceu em 2004 e 2007, com fundos arrecadados para o Crossroads Center, uma ONG mantida pelo Eric Clapton para o tratamento de dependentes químicos. O show, gravado ao vivo, reúne grandes nomes da guitarra e do Blues, como Joe Bonamassa, Robert Cray, Jeff Beck, Buddy Guy, B.B. King, John Mayer e os novos (e não menos incríveis) nomes que surgem no cenário bluseiro. São os maiores guitarristas em atividade, cantando os seus maiores sucessos.

 

Midnight in Harlem é uma das canções mais bonitas tocadas no festival de Chicago do ano passado. A voz é de Susan Tedeschi, um dos nomes mais impressionantes da nova geração de Blues, dona de uma voz forte e cheia de soul. No solo incrível de guitarra feito pelo fantástico Derek Trucks (o marido de Susan), a guitarra chora, grita, rasga os sentimentos e faz você acreditar que os dedos desse cara nasceram para as cordas.

--> midnight in harlem, por Trucks & Tedeschi Band
Na canção Space Captain, Derek, Susan e Warren Haynes mostram porque no Blues  não existem pudores, mas paixões, melancólicas, loucas, absurdas, avassaladoras a ponto de explodir nos microfones. Susan e Derek são aquelas flores no asfalto que brotam em terra árida.
Space Captain^^

E pensar que descobri o Derek e a Susan, numa tarde em que eu respirava o tédio de uma TV sem inspiração. Eu só queria achar pouso em algum lugar, ali na tela. Eram 4 horas da tarde. No sofá, os meus dedos nervosos apertavam todos os botões do controle remoto à procura de algo bom, uma diversão passageira que preenchesse a própria tarde ou quem sabe o tempo, que demorava a passar. E no vai e vêm dos sobressaltos televisivos, encontro alguns músicos tocando guitarra pra uma multidão.